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Category Archives: Meus textos.

PARTE UM.

Achei bem estranho, acordar e ter uma mensagem do Michael no meu celular: “Hoje, Prédio Itália, às 15h. Não se atrase”. Fiquei sem entender nada, olhei para o relógio, 11h. Estava bem atrasada, se realmente fosse nesse encontro. Mas é claro que eu iria, queria saber o que ele finalmente tinha a me dizer. Se é que diria alguma coisa. Será que tomaria alguma atitude? Será que finalmente sairíamos do “chove-não-molha”? Não sei. Mas ia pagar para ver. Levantei, tomei um banho daqueles, bem demorados, me vesti com um preto básico, relativamente justo ao corpo. Maquiagem leve nos olhos, batom vermelho. Bolsa e chaves do carro. Cheguei. Olhei para o relógio novamente, 14h55. Me identifiquei, subi para o local agendado, ninguém. Sentei e esperei. Uma espera eterna. Mas algo estava estranho. Minha prima, Juliana, um ser a quem eu repudio passou pela porta e pior, veio falar comigo. Respirei bem fundo, tentando não morrer de ódio, pois eu realmente odeio essa criatura. Ela sorriu e quando se levantou, o Michael entrou na sala. Ela saiu, olhado para ele. Ele ficou branco quando a viu. Não entendi nada, mas não perguntei, ou comentei nada sobre o assunto. Ele sentou. “Você está realmente incrível”, disse, sorrindo, parecia nervoso. Eu não disse nada, sequer agradeci ao elogio. Duvidada veementemente que era mentira, mas não deixei transparecer o semblante irônico. Ele pediu algo para bebermos, vinho. Eu odeio vinho. Odeio quem bebe vinho. Ele serviu meu copo, bebi em um só gole, sem esperar ele servir o dele. “Não vai brindar?”, ele perguntou. Não respondi. Esperei ele encher de novo e ele brindou: “Que hoje, tudo dê certo”, eu sorri, um riso bem amarelo, brindei e bebi num só gole novamente. Ele não encheu mais meu copo, respirei fundo quando ele começou: “Minha intenção de te trazer aqui, Fernanda, era para esclarecer algumas coisas. Somos adultos, você sabe, mas, você precisa saber que, sim, te acho incrível, uma linda mulher, maravilhosa, inteligente, o sonho de todo homem”. Meu pensamento correu: “Exceto você”. Sorri sombriamente diante do comentário e do pensamento. Ele continuou: “Mas não posso ter nada com você. Eu me envolvi com uma outra pessoa, e acho que você deveria saber a verdade”. Essas palavras entraram na minha mente como facas, rasgando tudo pela frente. Segurei a taça de vinho e pedi que ele me servisse, ele não se mexeu. Segurei com mais força até que ela quebrou, cortou minha mão. Ele pegou um guardanapo e tirou a taça da minha mão. Eu já sabia que ele tinha outra pessoa, para que me chamar até aqui e repetir isso? Então, boom. Claro, a outra pessoa era a vadia da minha prima. A odiei ainda mais nesse momento e o odiei junto. Odiei os dois com tamanha força que desmaiei. Quando acordei estavam os dois na sala, conversando baixo, ela olhando para mim, ele com a mão na cabeça, olhando para o chão. Havia um homem de branco um pouco mais no canto. “Você desmaiou”, ele disse. Eu sabia muito bem o que havia acontecido, sentei no divã em que me deitaram e olhei fixamente os dois do outro lado da sala. O Michael não conseguiu me encarar por mais de dois segundos. Minha prima, ria. Peguei minha bolsa e saí sem olhar para trás.

...

PARTE DOIS.

Não lembro quanto tempo se passou desde o encontro com o Michael, no Itália. Que cena ridícula. Ele sequer teve coragem de me olhar na cara. Resolvi viajar para a Bolívia. Não sei porque escolhi logo a Bolívia, só sei que fui. Me hospedei no primeiro hotel que eu achei pela cidade, e fui para a piscina. Um lugar imenso, com piscina olímpica. Este espaço era coberto, então eu deitei em uma das cadeiras de praia, e depois de um tempo relaxando, ouvi vozes relativamente familiares. Amigos do meu irmão estava chegando, conversei com alguns. Que coincidência não?! Mergulhei na piscina depois do encontro, e fui conhecer o hotel. O presidente boliviano estava hospedado no mesmo hotel, e havia uma reunião, dentro de uma das salas de festas no lobby do hotel. Por pura curiosidade cheguei perto da sala, para ver o que estava acontecendo e surpreendentemente, vi o Michael sentado na fileira da frente. Olhei bem, para ter certeza de que não estava enlouquecendo, mas não estava, era ele mesmo, sentado, escrevendo e gravando a conversa. O presidente me viu, me reconheceu, ficou claro porque pediu que me chamassem. Eu pedi para não entrar, pois estava em trajes de banho, mas o presidente fez questão. Quando o Michael me viu ficou rubro. Parecia com raiva, mas eu não fiquei olhando. O presidente pediu para fazer uma foto, e agendou um horário comigo, para uma entrevista. Disse que era bom ter um jornalista, que poderia passar notícias, não somente um historiador, que entende a história. Eu saí da sala sem olhar para o Michael. Cheguei ao quarto, troquei de roupa, sentei na cama enquanto calçava as botas. Seria um longo dia. Mas não fiquei pensando nisso. Eu queria sair daquele lugar, eu precisava beber alguma coisa. Saí pela rua e entrei no primeiro bar que eu vi. Pedi whisky puro, não gosto, mas àquela altura já não podia escolher o que eu gostava, porque acima de tudo, estar na Bolívia já não estava ao meu gosto. Outra voz familiar. Olhei para o lado com um semblante visivelmente puto, era o Luiz. Engraçado, o Luiz aqui? O que ele estaria fazendo na Bolívia? Ele me perguntou a mesma coisa. “Férias” eu respondi. Ele riu, pediu outra dose, tomou junto comigo. “Vai ter uma trilha mais tarde, um evento bem conhecido nessa região, as pessoas se juntam para subir a montanha, parece-me que todos estarão lá, se quiser, podemos ir juntos”, disse o Luiz. Eu nunca tinha ouvido falar daquele evento, mas também, nunca estive na Bolívia. Estar ali com ele me fez me sentir viva, aceitei de pronto, e ele pediu para passarmos no hotel e pegar casacos mais grossos, o tempo tendia a esfriar durante essa trilha. Fiz o que ele pediu e depois partimos para a tal montanha. Como era de se esperar, lá estavam eles, o casal mais feliz do evento, a Juliana e o Michael. Os dois traidores. Fiquei parada, segurando um cordão de ferro, que suportava a ponte que passaríamos para seguir a trilha inicial, olhando para os dois. Minha prima não me viu, mas o Michael me encarou com toda a coragem que ele não teve quando me disse que tinha outra. Fiquei olhando, até que o Luiz chegou e me tirou de lá. Passamos a ponte e começamos a seguir a trilha. Aproximadamente 30 minutos depois, fizemos uma parada, para abastecer garrafas e bolsas, o Luiz ficou parado me olhando, a luz do sol batia nos cabelos longos dele. Tirei uma foto do quase sorriso lindo que ele tem. Olhamos a foto e ele sorriu, e enquanto eu sorria ele ficou parado me olhando. Quando eu fiquei séria, ele me beijou. Primeiro um selinho longo, parou para ver minha reação. Não me mexi, mas correspondi ao beijo. Vendo minha reação, ele entrelaçou as mãos meus meus cabelos e me beijou de novo, dessa vez com vontade, com garra, e eu diria que até com certo ódio. Eu me deixei levar pelo beijo, e perdi até a noção no tempo. Decidimos desistir da trilha e voltar para o hotel. Quando estávamos quase chegando, ele entrou na frente, por outra coincidência, ele também estava hospedado no meu hotel. Eu fiquei para trás porque resolvi comprar uma bebida fora, ao invés de pedir no hotel, o Luiz entrou para arrumar o quarto dele. Na volta para o hotel eu o vi. Lá estava ele, na porta, parado, sozinho, com a mesma mão na cabeça, olhando para o chão. “Michael” eu disse. Ele levantou a cabeça, me encarou sem dizer nada. “Quem é ele?”, quando conseguiu falar, foi o que disse. “Um amigo”, eu ainda tive a decência de responder. Ele tentou dizer alguma coisa, mas se calou. “Mais uma vez você vai ser covarde. Da primeira não me olhou, e agora não vai dizer nada. É bem a sua cara, afinal”, eu estava com ódio. Queria simplesmente não estar ali, pelo menos não com ele, não tendo aquela conversa. “Eu não sei o que aconteceu, nem sei porque escolhi sua prima Fernanda”, ele soluçava. “Não importa Michael, você já fez a escolha, não me deixou escolha, e agora tem que viver isso”, eu queria mandar ele se foder, mas mesmo assim, ainda sentia que tinha que responder durante a conversa. “Você vai ficar com ele?”, passei por ele sem responder essa. Depois dessa viagem, eu e o Luiz voltamos juntos ao Brasil. Trabalhamos, e seguimos nossas vidas. Ah, o Michael e minha prima? Nunca mais os vi.

Mais uma noite quase insone, e quando finalmente pego no sono, você aparece. Queria saber, porque depois de tantos anos, mesmo depois de uma conversa na qual você me pediu para esquecer que existimos, eu ainda penso na gente, ainda penso em você e sonho, sentindo-me a melhor pessoa do mundo e de repente, acordo, sentindo-me a pior.

Juro por deus, quando vou dormir, não fico pensando em você. Noite passada por exemplo, pensei em como conversar com um cara que estou saindo, um amor de pessoa, um homem incrível. Iria dizer a ele que vou pedir as contas do trabalho, que acho ele incrível, e que quero continuar com ele, fora da empresa (nos conhecemos de lá). E depois, entrei no Instagram de outro cara, um que eu me apaixonei, ah eu e meus amores, sempre tem alguém fazendo cicatrizes no meu coração.

E finalmente eu dormi. Era uma rua praiana, o mar estava ao fundo, à minha direita. Sua casa estava à frente, era uma casa de tijolo baiano, grande, com grandes janelas, que estavam abertas. As panelas pretas, em um fogão grande, davam para ver a fumaça de uma comida típica. Sua esposa, grávida, estava saindo, para colocar o lixo para fora, quando me viu. Surtou! Jogou as sacolas no chão, com força, e veio em minha direção. Eu estava tentando te ver, confesso, mas estava a metros de distancia, não estava no seu campo de visão.

Boo'ya moon.

Boo’ya moon.

Ela gritou palavras feias e me condenou à uma vida sozinha. Uma vida solitária, sem amor, sem ninguém que me amasse. Eu ouvi, fiquei olhando para a barriga dela, ela estava de biquíni preto, a barriga estava grande, ela estava linda. Não respondi nada. Você saiu para saber o que estava acontecendo. Ficou rubro quando me viu, talvez fosse ódio. Sua esposa gritava pedindo para que se mudassem. Eu gelei, já não podia ter você, se não te visse talvez morresse de vez. Fiquei quieta, você a puxou, e foram felizes para a casa de praia. Fui também para minha casa e chorei, chorei muito, estou chorando até agora.

O dia seguinte, fiquei na rua, olhando o movimento, muitas pessoas passando. Tentei não pensar em você, tentei esquecer as palavras da sua esposa no dia anterior. Nada. Engraçado que, você nunca passa pela minha rua, só te vejo quando vou a praia, quase nunca. Prefiro ficar doente, do que aparecer por lá, mas quando fico, só indo lá para poder ficar bem de novo. Estava com meu irmão, conversando e curtindo o sol do fim da tarde. Você passou, ia ser direto, mas parou e me olhou bem sério. Perguntei o que tinha acontecido e você meio que sorriu, como quem pergunta, “porque as pessoas fazem isso?”. Perguntei se queria entrar, minha casa era perto da sua, mas não tanto para que sua esposa visse. Você entrou. Servi um chá, eu não gosto de chá, mas você sim. Servi seus biscoitos favoritos, fiquei te olhando comer e tomar o chá. Então, você finalmente pergunta se eu estava doente de novo. Sim, respondi. Se eu me mudar você morre não é? Você sabia de tudo, de que adiantava aquela conversa? Provavelmente sim, respondi de novo.

Você largou a xícara e os biscoitos, sentou ao lado da minha cadeira, e dava pra ver o sol se pondo. Não me lembrava da última vez que fiz isso, mas aquele por do sol eu iria guardar para sempre. Você me ama? Essa era uma pergunta tola de ser feita. Claro que eu te amo, mas eu não respondi. Estava com a voz embargada por lágrimas que eu estava segurando. Não respondi nada e fiz uma força imensa para não soluçar. Você me olhou e viu meus olhos cheios de lágrimas. Suas mãos se entrelaçaram ao meu cabelo e você me puxou com força. Mesmo que eu quisesse revidar, seria impossível. Deixei ser levada por você, que me beijou loucamente. Nos beijamos violentamente, que a mesa caiu, e nós rolamos pelo chão. Você levantou me puxando junto. Me bateu no rosto, quando eu fiquei em pé, e me puxou de novo, me beijando com mais força ainda.

Tentei empurrar, mas não consegui, te puxei contra o meu corpo e cravei as unhas nas suas costas. Continuamos nos beijando até o quarto e você me empurrou para dentro. Eu caí na cama, e fiquei ofegante, esperando sua reação. Você rasgou minha blusa, colocando a boca nos meus seios. Me apertava com tanta força que achei que ia ficar sem eles. Eu gritava num misto de dor e prazer. Você tirou sua roupa de uma só vez, e eu fiquei te olhando nu, na beira da cama. Você rasgou a saia que eu estava usando e tirou minha calcinha com uma mão, rasgando-a. Deitou em cima de mim num pulo e entrou dentro de mim, com força e violência. Nos amamos com ódio, com raiva. Eu gritava de prazer. Você me olhava nos olhos, só ouvindo, não dizia nada.

Finalmente acabou. Você deitou ao meu lado na cama. Você me ama? Sim, te amo. E depois de alguns minutos você se vestiu e voltou para casa. Ainda me arrumei, colocando uma maquiagem escura. Minha mãe chegou em casa um tempo depois, fazendo com que eu lavasse o rosto. Eu lavei e deitei na cama que fizemos amor. Eu morri, feliz.

Chega o final de ano e todo mundo deseja paz, saúde, dinheiro, sucesso, esperança, pular sete ondas, comer lentilha, sempre a mesma coisa. E claro, não posso esquecer de falar sobre os planos, as metas para o novo ano. Isso sempre acontece, como pode?

Pode porque é um novo ano, um novo período e como disse uma amiga, é uma nova chance de fazer tudo diferente. Em 2013 eu comemorei meu aniversário em janeiro indo a um karaokê na Sta. Cecília que eu adoro, com amigos, com amores.

Em fevereiro não lembro o que eu fiz, acho que começaram as aulas do meu filhote na escolinha, primeiros dias foram tensos.

Março eu trabalhei muito, trabalhava na Livraria Cultura.

Abril, mesma coisa, mas trabalhei menos, lembro que tive mais folgas neste mês.

Maio eu saí da Cultura e comecei a treinar. Melhor coisa que eu fiz.

Junho eu comprei um tablet para o meu ex namorado e sinceramente, não consigo me lembrar o que ele me deu de presente.

Julho, terminei meu namoro.

Renove-se.

Renove-se.

Agosto foi o triste aniversário de quatro anos do Angelo. Nós fizemos uma festa e ele chorou querendo sair com o pai dele, sumido.

Setembro: comecei a escrever uma coluna em um blog masculino,passando a visão feminina de muitos fatos.

Outubro: comecei um curso de jornalismo comunitário. Uma das melhores coisas que já me aconteceram.

Novembro: mais do curso, comecei a trabalhar no Bradesco.

Dezembro: formatura do curso de jornalismo, despedidas e muitas despedidas.

 

Agora, a lista para 2014.

Quero comemorar meu aniversário em todos os finais de semana de janeiro, quero ter 100% de aproveitamento no curso de fotografia e áudio visual, quero ir a praia em um dos finais de semana de janeiro, quero conhecer pessoas novas, quero visitar uma casa de swing, quero ir num show gringo, quero conseguir tirar férias neste emprego, quero aumento de salário, promoção no trabalho, quero crescimento, continuar escrevendo minhas colunas, quero que meu blog seja altamente reconhecido, quero entrevistas exclusivas, quero entrar na faculdade, usar a nota do ENEM para fazer um curso técnico, quero uma câmera fotográfica, quero mais livros, terminar a coleção de Sidney Sheldon, começar Stephen King, comprar filmes, ganhar amigos, ganhar roupas, camisetas e acessórios, quero ir mais à praia, curtir meu filho, ter mais tempo para viver, trincar o abdome, quero os gringos ruivos da copa do mundo, vender água e ganhar uma grana. É pedir muito?

Feliz natal 2013 e feliz ano novo 2014.

Bom dia. Bom dia? Bom, isso tem que servir. Hoje acordei me sentindo estranha. Num sonho, um dos poucos que me lembro, aliás, o único que lembrei, eu vi que um dente meu havia caído. Um dos dentes da frente. Achei estranho. Levantei e fui até o espelho, o dente ainda estava lá, mas estava doendo. Coisa tão estranha, porque dizem que sonhar com o dente caindo significa que alguém vai morrer.

Ensina?

Meu namorado estava deitado na minha cama, eu o acordei com um beijo no pescoço. Ele me deu bom dia, é então serviu. Devolvi o bom dia e beijei sua boca. Então comecei a questionar: “-Quando sonha com dente caindo é que alguém vai morrer?”, “-É o que dizem gatinha”, “-Mas quem morre é quem sonha ou outra pessoa próxima?”, “-Pode ser eu”.

Conversa estranha. Ele foi embora sem nem dizer tchau direito. Mas chegou bem em casa. Perguntei para minha mãe sobre o tal dente que cai no sonho. Ela disse que também sonhou com isso e que dizem que quem morre é uma pessoa próxima. Faz duas semanas que estou sonhando com meus dentes caindo, só aguardando para ver quem será que vai nos deixar. É assim que a vida ensina? Não sei, realmente, não sei…

Queria saber como se sentiu ao ver meu nome no envelope. Não deve ter sido nada fácil ver meu nome depois de tantos anos. Quantos? Cinco, seis talvez? Faz tanto tempo que até eu mesma me perdi.

Você deve estar se perguntando o motivo desta carta, bom essa resposta nem eu mesma posso dar. Não sei porque resolvi escrever, só sei que precisava, então me pus a escrever, quem sabe saia alguma coisa que sirva para algum de nós.

Tanto tempo se passou, e a verdade é que, de uns seis meses para cá eu estava pensando muito em você e em nós. Mas calma, não é em nós de uma forma chamativa, ou “desejativa”, em desejo e coisas do tipo. Apenas em nós, em como éramos, no que fomos e no que nos tornamos.

Infelizmente, não sei muito bem no que você se tornou, depois daquele último dia na sua antiga casa, que conversamos sobre coisas aleatórias e sobre sua atual mulher, nunca mais nos vimos. Só tenho ouvido coisas sobre você, nada concreto, nada certo.

Não sei de muitas coisas, tentei contato com você, mas tenho certeza que você não queria falar comigo. Então revirei o mundo para conseguir seu endereço e te mandar esta carta. Então vamos ao que interessa, não é verdade?

Neste tempo, eu cresci, tive um filho que hoje tem quatro anos. Sei que você vai ser pai logo logo, parabéns, fico feliz por sua conquista. Estou terminando um curso de jornalismo, não sei se você se lembra, finalmente estou realizando meu sonho. Não tenho namorado, sou uma pessoa meio sozinha, recentemente terminei um relacionamento meio conturbado. Foi ele quem me lembrou você.

Essas lembranças fizeram com que eu tentasse te procurar, em vão. Ninguém me passou sequer um contato seu, um telefone, todos sabiam melhor que eu que você não queria saber de mim. Sonhei com você umas três vezes desde que comecei a pensar em nós.

Enfim só queria que soubesse que eu sinto vontade de dizer “adeus” pessoalmente. Queria dizer que fico feliz por você ter sua família, seus bens, sua casa e sua vida. E queria poder dizer isso olhando nos seus olhos. Mas como não teve jeito, vai por essa carta mesmo.

Seja feliz, Rômulo. Já sei que é, continue sendo então. Você vai mais longe do que eu poderia imaginar.

Atenciosamente, Fernanda Saraiva.

X

Ah, como eu queria poder entregar isso. Queria que fosse de verdade.

Era Primavera na cidade em que Fernanda morava. Era uma cidadezinha pequena, com poucos moradores, todos conhecidos. Fernanda estava fazendo 18 anos na festa da Primavera que será naquela noite. A cidade será visitada por bandas de fora, que farão um show para animar os moradores da pequena cidade. Todos se prepararam e arrumaram tudo. Serão vendidos os doces de figo, iguaria da cidade. Muitos serão oferecidos, fora outras coisas, para arrecadar fundos, para montar uma nova fabrica, onde muitas pessoas terão novos empregos e oportunidades.

Então, a cidade ficou enfeitada, todos prontos, e foi escurecendo, caindo a lua. Os amigos de Fernanda estão preocupados, pois ela é a única garota solitária da pequena vila. Todos namoram, ou ficam com alguém, enquanto Fernanda, coitada, vive sozinha. Sempre sai para conversar com os amigos, mas sempre vai embora para casa sozinha.  Mesmo assim, foram todos para o centro da cidade. E assim, começaram os “rituais” de Primavera. Música boa tocando, todos se divertindo, inclusive Fernanda. De onde estavam não dava para ver o palco onde os músicos se apresentavam.

Não importa onde amanhecer, desde que eu esteja com você...

Não importa onde amanhecer, desde que eu esteja com você…

Fernanda usava um vestido rendado com sapatilhas que ao caminhar, faziam barulho. Todos estavam dançando, Fernanda pegou o chapéu de um amigo e brincou colocando-o na cabeça. Muita diversão, muito riso.E muitas horas se passaram, muitos doces de figo foram vendidos, Fernanda não havia comido nenhum. Ganhou alguns, mas na confusão e brincadeiras dos amigos, levaram-lhe todos. Depois que a música a tempos já havia acabado, Fernanda resolveu subir a rua que dava para as barracas, e lá embaixo, estavam os amigos ao redor de uma fogueira. Lá foi ela, com sua sapatilha barulhenta e chegando nas barracas, viu os músicos. Ela se apaixonou instantaneamente por um deles. Um rapaz branco, com os cabelos para cima, um rosto encantador. Seguiu na direção dele e lhe perguntou onde havia uma barraca com doce de figo. Ele fitou os olhos de Fernanda, sorriu e disse que não sabia. Ela abaixou a cabeça baixa, muito triste, pois imaginou que ele não tenha se apaixonado por ela, como ela o fez. Então, voltou correndo para a fogueira, despediu-se dos amigos e entrou em sua casa, novamente solitária.

Passado algum tempo, alguns integrantes da banda desceram para cantar na fogueira, mas Fernanda ficou em casa, sozinha. De repente um toque a porta chamou-lhe a atenção. Ela desconhecia o toque suave da mão na porta de madeira. Abriu, ainda com a cabeça baixa. Ninguém disse nada, então Fernanda se obrigou a subir a cabeça e olhar quem a incomodava em sua solidão. Era o rapaz por quem ela havia se apaixonado à primeira vista! “-Lhe trouxe um doce de figo!”. Fernanda sorriu e como em um sonho, a noite virou dia, e os dois fugiram entre as pequenas tuas do vilarejo. Num carro grande, onde cabiam todos os seus sonhos.

Ela estava nervosa, não sabia porque. Tudo estava como planejado. O disco de vinil estava comprado, fazia mais de duas semanas. Ela só queria entregar pessoalmente para ver a cara de surpresa e felicidade dele. Mas porque o coração faltava sair da boca ao pensar nisso? E lá fora, chuva. Ela resolveu se arrumar, cabelo, unhas, sobrancelha. Ela não sabia se ele iria perceber, mas mesmo assim fez tudo conforme sempre fez. Queria estar bonita.

Seria um encontro coletivo. Outras pessoas estariam junto com eles. Mas mesmo assim, o importante era entregar o disco. Vieram de carro. A turma estava animada, cantando e falando alto. Ela abriu a porta de casa e pediu para que fossem entrando. Um a um e por último ele. Havia ali muitas pessoas que ela desconhecia. O rosto dele era familiar. Aquele medo de tudo dar errado havia passado. Então, começaram as conversas e algumas apresentações. Mas os dois sempre em lados opostos da casa.

Through The Rain

Through The Rain

Durante uma conversa na sala com as garotas, ela sentiu uma pontada de ciúme. Uma das garotas desconhecidas estava falando dele de uma maneira amável. Ela sorriu por dentro, ciúmes porque? Todos ali só queriam o bem dele mesmo… E depois tudo passou. Logo depois, virou uma confusão. Todos resolveram sair, e assim o fizeram. Antes que ela pudesse entregar o disco que havia comprado. Ele foi com os outros, enquanto ela ficou um pouco atrás. Estava chovendo, todos dentro do carro, ela do lado de fora. As lágrimas começaram e se confundir com a água da chuva. Ela não sabia se ele percebeu que ela estava chorando.

Ele desceu do carro, a abraçou na chuva mesmo. “-Porque você está chorando?”. Ela riu. Olhou para cima, para fitar os olhos verdes dele. “-Não te entreguei o seu disco.”. Ele sorriu e apertou o abraço. “-Não precisa chorar…”. Mas nem ela mesma sabia porque estava chorando. Os dois voltaram, ela finalmente entregou o disco. Ele sorriu. “-Eu não mereço.”. “-Só para ver esse seu sorriso.”, foi o que ela respondeu.

Passo dias andando, olhando para os lados. Sempre fui distraída, sempre gostei de andar e olhar para o nada, mas ultimamente, o nada não me prende mais a atenção.

O nada, o que tinha beleza, agora só tem um rosto. O seu. Porque será? Quando você se foi, levou tudo, lembro até o hoje o gosto amargo das lágrimas. Você havia me traído quatro vezes. Eu sempre soube, não me lembro de ter dito nada sobre o assunto. Apenas que te amava. Não lembro de ouvir você responder que me amava de volta, ou idem, ou o que o valha. E eu ficava lá lutando. Lembrar disso, me faz entender que eu SEMPRE fui assim.

Quando eu disse que traição não era para mim? Nunca, porque eu SEMPRE perdoei. Sempre achei que iam mudar, ou que eu mudaria. Eu mudei, mas nunca mudaram. E me fizeram lembrar que eu sempre esqueço é das pessoas.

Procura-se.

Procura-se.

E porque lembro tanto de você? Porque tenho lembrado tanto da gente? De quando ouvíamos música, e ríamos quando um dava gafe. Lembrando só dos nossos momentos bons, e do quanto eu errei, e fiz merda, e afastei você da minha vida.

Agora, eu só queria um número, um número que eu pudesse ligar e ouvir sua voz. Marcar de te encontrar em qualquer lugar, mesmo que por 5 minutos, só para saber que você está bem, que depois de mim, você só melhorou, amadureceu, ficou melhor do que eu.

Seguiu com os planos que tinha, só que com outra pessoa. Saber se você diz “eu te amo”, para ela. Rir de ver seu sorriso, faz tanto tempo que eu não vejo, que eu nem lembro mais quanto tempo faz. E agora eu quero ver de novo. Fico procurando nas ruas, entro no bairro que sua mãe mora, fico procurando por ela, por seus irmãos, por alguém que me leve até você. Nada. Entro com esperança e saio sem nada. Tristeza? Não, nem isso. Saio sem nada mesmo. Sem nenhuma esperança, sem nenhum caminho e o pior, sem rastro.

As pessoas parecem não querer que eu te veja e vice-versa. Sei lá,não dá para explicar. Só sei que eu quero, muito. Só queria ver você, mesmo que de longe, mesmo que fosse para ouvir você dizer que era para eu parar de encher o saco dos outros, parar de te procurar, porque você já seguiu com sua vida. Sei lá. Só queria saber da sua vida… Enfim.

Sinceramente, dói quando alguém, nos diz, ou descobrimos por nós mesmos que não podemos corrigir os erros que cometemos. Os erros de infância, aqueles que deixam as feridas que nunca cicatrizam sabe?

Pois é. Dói muito, saber que por mais que passem os anos, o tempo nunca vai curar essas feridas. E é do ser humano aproveitar qualquer oportunidade que tiver, para corrigir esses erros. Quem sabe assim, as feridas fechem finalmente, e fique somente aquela cicatriz, que alguém mais a frente vai te perguntar: “O que aconteceu?”, e você vai rir. E não vai mais doer.

E quem não gostaria de poder voltar no passado, naquele momento em que sabemos hoje, que deveríamos ter dito algo e dizer. Ou ao menos ter a oportunidade de poder encontrar aquela pessoa e dizer: “Olha, aquele dia, eu queria ter tido isso, e não disse. Agora posso dizer”.

Resolvendo as coisas?

Resolvendo as coisas?

Eu mesma ando pensando muito nisso. Não posso voltar no passado e mudar o que já aconteceu, e dói, saber que não posso no presente, encontrar quem eu gostaria para dizer: “Tanto tempo passou, eu cresci, vejo que você também. Fico feliz em poder dizer que me orgulho do que você se tornou, longe de mim. Que sua escolha foi a melhor, e que eu fico feliz por que você está bem. Tudo deu certo afinal”.

Infelizmente, não podemos mesmo voltar ao passado, e o presente, não é mais o que o nome diz. Ou será que eu deveria estar bem também, e quem sabe você não iria querer me dizer que se sente feliz com o que eu me tornei…

Só resta guardar os bons sentimentos no peito, para si só. Tentar curar a ferida, mesmo que a outra pessoa não saiba nunca que a cicatriz está lá. Nos resta apenas, olhar para frente.

Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão?

Hoje eu assisti ao começo de um filme que sempre me faz chorar. Não sei se as pessoas tem disso, mas eu vejo alguns filmes milhares de vezes e ainda me sinto emocionada, mesmo sabendo o que vai acontecer.

Up – Altas Aventuras, conta a história de um menino que sonha em ser aviador, assim como seu ídolo. Andando na rua depois de vê-lo na tv, ele ouve uma garotinha brincando em uma casa abandonada. Ele resolve entrar e a garotinha o vê espiando. Ele se assusta com ela e deixa escapar um balão que com o qual estava brincando. Quando vão buscar o tal balão, Carl, o garotinho, cai um andar abaixo e quebra o braço. Ellie, a garotinha, vai visitá-lo e mostra o livro de aventuras dela.

E depois disso, a amizade se torna amor. Eles tem planos de viajar para a América do Sul, um sonho de Ellie. Planejam ter filhos, tentam juntar dinheiro para a viagem. Tudo em vão. E quando chega a velhice, um belo dia limpando a casa, Carl percebe que o tempo passou e eles nunca conseguiram realizar o sonho de Ellie.

Então, Carl resolve comprar uma passagem de avião para a América do Sul e realizar o sonho de Ellie. Quando ele vai revelar a surpresa, Ellie fica doente e acaba morrendo. Então, Carl se vê ali sozinho, sem Ellie, sem sonhos, sem nada.

Carl e Ellie.

Carl e Ellie.

O tempo passa e Carl se torna um velhote amargurado, sozinho. Na sua velha casa, a mesma na qual conheceu Ellie, Carl se descobre tendo que ir para um asilo, pois uma empreiteira tenciona derrubar sua casa para construir um prédio. Ele pergunta a Ellie o que fazer, mas claro, sem resposta.

Surge a ideia de encher muitos balões e viajar até a montanha que Ellie gostaria de conhecer, e é aí que começam as altas aventuras de Carl.

 

O que eu queria dizer, na verdade é que, deixamos mesmo o tempo passar, e coisas que fazíamos quando pequenos, com o tempo, não fazemos mais. Eu sempre escrevi muito, mas deixei isso de lado. E me perguntei, quanto tempo mais vou viver ofuscando o brilho das coisas que eu gosto de fazer?

Enfim…